domingo, 15 de fevereiro de 2009

A humanização das campanhas políticas

Estive recentemente no Panamá. O País está passando por eleições presidenciais, e a cidade do Panamá está repleta da outdoors, cartazes e fotos de políticos por todos os lados. Mais ou menos como ocorria em São Paulo antes do Cidade Limpa. Mas no meio de tanta poluição visual, uma campanha me chamou atenção já no caminho entre o aeroporto e o hotel. No primeiro outdoor que vi dessa campanha, um senhor de cabelos grisalhos aparecia em uma foto preto e branco, dando um abraço apertado em um jovem claramente de classe baixa. Nesse abraço, o senhor aparecia quase de costas, ficando apenas uma parte do seu rosto aparente. Assistindo a essa cena estavam dezenas de pessoas simples, que olhavam aquilo tudo demonstrando aprovação e afeto. Ao lado dessa cena, lia-se a frase "Martinelli presidente - el verdadero cambio". Fiquei refletindo um pouco sobre aquele outdoor. Ele fugia do padrão das campanhas eleitorais por diversos motivos: era em preto em branco, o político em questão não estava em uma foto posada, maquiado e com aquele sorriso confiante no rosto. Ele estava sim suado, de lado, abraçando pessoas aparentemente reais. As demais peças publicitárias da campanha de Martinelli seguiam a mesma linha. Ele olhando nos olhos de crianças, segurando nas mãos de idosos, conversando entre pessoas de uma família. Todas essas peças tinham um grande ponto em comum: elas tiravam o político de seu pedestal intocável, dos seus ternos bem cortados e dos seus discursos ensaiados e o colocavam entre as pessoas normais. Através da linguagem fotográfica, elas passavam uma mensagem simples, mas cheia de emoção: Martinelli é gente como a gente.
Olhando para esse exemplo do Panamá, pensei um pouco sobre nossas ultimas campanhas políticas no Brasil. Me parece que os nossos marketeiros ainda não perceberam o poder dessa humanização dos políticos. A grande maioria das campanhas segue a mesma linha de criação: em toda a midia impressa o político aparece sorrindo, em uma foto feita em estudio com o seu nome e um slogan ao lado. Lula, Serra, Alckmin, Marta... Todos esses políticos seguem a mesma fórmula de sempre. Seus programas de TV, que poderiam cumprir esse papel de humanizar o candidato de forma ainda mais eficiente, também não escapam da padronização excessiva: apresentadores em um estudio, jingle com frases de efeito, muita tecnologia e didática. Mesmo as cenas inseridas durante o programa que mostram o político em caminhadas junto ao povo são padronizadas, e parecem ser ensaiadas e pouco naturais. Quem se esqueceria da cena, da então candidata Marta Suplicy, de sapatos de salto alto, vestida com seus terninhos importados, andando no barro e tentando saltar um córrego? Nada mais natural...
Mas, temos também bons exemplos. O presidente Lula é o melhor deles. Apesar da padronização da sua campanha, ele não precisou ser humanizado. Ele fala errado, tem pouca educação, faz discursos inflamados em cima de caminhões, gosta de uma cachacinha e muitas vezes tomado pela emoção, fala coisas que tem que ser desmentidas por seus assessores em seguida. Tudo errado... Ou tudo certo? O Presidente tem a maior aprovação da história do país, e todos os escândalos e bobagens do seu governo não colam nele de forma alguma. A sua imagem é mais forte que a imagem do seu partido, e até mesmo que a imagem de um presidente da republica. Lula é gente que venceu na vida.
Voltando ao Panamá, o candidato Martinelli aparentemente leva uma vantagem considerável na disputa a presidência e deve ganhar com facilidade. Não podemos dar todo o mérito dessa provável vitória à sua campanha humanizada. Martinelli é um empresário de sucesso, e deve ser propostas boas para o seu país. Mas olhando para essa experiência, e pensando sobre as nossas ultimas campanhas aqui no Brasil eu posso afirmar que o processo de humanização das campanhas políticas pode fazer muita diferença entre os políticos. Afinal, não votamos de verdade em partidos políticos, propostas mirabolantes, ou planos de governo. A gente vota mesmo é em gente.

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