domingo, 3 de outubro de 2010

Intimidade na era das mídias sociais

Fiz aniversário no ultimo dia 26 de setembro, um domingo. Como esse ano não fiz nenhuma comemoração especial, acabei não encontrando nenhum dos meus amigos nesse dia. Mas, curiosamente esse foi o ano em que recebi o maior numero de felicitações pelo meu aniversário... Como isso foi possível? Vamos aos números:
  • 59 mensagens do Facebook
  • 12 ligações no celular
  • 2 ligações em casa
  • 5 SMS
  • 1 mensagem no LinkedIn
  • 4 mensagens no Orkut
  • 7 e-mails
Olhando para esse cenário, comecei a refletir sobre os novos comportamentos na era das midias sociais. Pouquíssimo tempo atrás (talvez um ou dois anos), a situação seria muito diferente: provavelmente eu receberia um pouco mais de telefonemas do que eu recebi esse ano, e muitos "parabéns atrasados"na segunda feira pós aniversário. E só. Mas nesse ano, recebi um total de 90 felicitacões, de 7 diferentes formas. Aqui já cabe uma primeira constatação: hoje as pessoas tem a sua disposição um número enorme de opções para se comunicarem umas com as outras. Todas essas opções ampliaram também o período disponível para as pessoas se comunicarem, já que tirando os telefonemas, todas as demais mensagens podem ser enviadas a qualquer hora do dia ou da noite (e de qualquer lugar, já que com um celular podemos acessar todos esses aplicativos).

Mas, será que toda essa tecnologia deixa as pessoas mais próximas e íntimas uma das outras?

Avaliando um pouco mais a fundo a minha amostra umbigo de aniversário, pude constatar alguns padrões interessantes de "nível de intimidade". Como esperado, o nível mais alto de intimidade foram as ligações no celular, que foram feitas por meus melhores amigos. Apesar de terem acesso as demais formas de comunicação, eles fizeram questão de me cumprimentar pessoalmente. No nível 2 de intimidade, eu diria que ficaram os SMS. Recebi SMS de pessoas que gosto muito, e que tenho certeza que gostam muito de mim, e que por algum motivo preferiram mandar um pequeno texto de parabéns ao invés de ligar (o que poderia ter sido até mais rápido em muito dos casos...). Em terceiro lugar no meu "índice de intimidade" ficaram as redes sociais, tanto o Facebook quanto o Orkut. Aqui recebi alguns comentários de familiares próximos, mas a maioria das pessoas que me cumprimentaram foi de colegas de trabalho e amigos que não vejo há tempos. Pessoas queridas, mas que por motivos diversos, acabo encontrando mais no mundo das midias sociais do que no mundo real. Em último lugar na minha lista de intimidade ficaram o e-mail e o LinkedIn. Aqui temos outra constatação interessante: o e-mail que já foi a principal forma de comunicação entre as pessoas, está se tornando cada vez mais uma ferramenta de cunho profissional. As pessoas, principalmente as mais jovens, preferem se comunicar informalmente pelas redes sociais, deixando o e-mail como uma ferramenta de trabalho, quase um documento. Mas, e os dois telefonemas que eu recebi em casa - da minha avó e da minha tia mais velha? Aqui obviamente, o nível de intimidade comigo foi o mais alto possível. Mas claramente, não posso dizer o mesmo da intimidade delas com a tecnologia....

domingo, 6 de junho de 2010

Foursquare - essa "brincadeira" vale a pena?

Que as mídias sociais chegaram para ficar ninguem tem mais dúvida. O pioneiro Orkut apesar de estar sendo abandonado por uma boa parcela de usuários que migraram para o Facebook, ainda tem milhões de usuários ativos no Brasil. O Twitter já virou aplicativo obrigatório de celulares de última geração, e é cada vez mais comum sabermos em tempo real que nossos amigos estão "trabalhando muito", "presos no trânsito", ou simplesmente filosofando sobre a vida. Para os executivos, ter uma pagina atualizada no LinkedIn é praticamente mandatório, já que boa parte das consultorias está buscando profissionais diretamente nesse site. Porém, nos últimos meses um novo aplicativo tem conquistado cada vez mais usuários no Brasil e no mundo, e tem potencial para virar a próxima "bola da vez" entre as mídias sociais. Estou falando do Foursquare.

A primeira coisa interessante para esse novo aplicativo é que ele realmente foi desenvolvido para ser usado em celulares e não em computadores. Você pode até visitar a página do Foursquare no seu computador, mas aí não tem graça. Como ele mesmo se apresenta, o Foursquare tem como objetivo ajudar as pessoas a conhecerem mais as suas cidades. Mas como isso funciona? De uma maneira simples: você baixa o aplicativo do Foursquare no seu celular (idealmente um de ultima geração como Blackberry, IPhone, etc), e cada vez que entrar em um lugar você utiliza esse aplicativo para fazer um "check-in" (em um restaurante, academia, teatro, etc). Nesse check-in você pode também escrever dicas sobre o lugar, que ficarão disponíveis para outras pessoas acessarem. Além disso, o Foursquare funciona como um Twitter, ou seja, além do check-in você pode também escrever alguma coisa pessoal ou fazer algum comentário. O Foursquare pode ser conectado ao Facebook, ao Twitter, e a outras midias sociais, e cada vez que você fizer um check-in, ou fizer um comentário, ele será automaticamente direcionado a essas páginas também. E tem mais: se você faz diversos check-ins em um mesmo lugar, você acaba virando o Prefeito.

Virando o prefeito? A primeira vista, toda essa operação parece estranha (e até um pouco infantil). Para que vou dizer para todo mundo aonde estou? Para que quero virar prefeito virtual de um bar, ou da empresa em que trabalho? Aqui é que a ferramenta começa a apresentar o seu potencial. Além da graça intrínseca em todas as midias sociais (de se sentir próximo dos amigos, de fazer comentários, de participar de disputas saudáveis por prefeituras, etc), as funcionalidades do Foursquare podem transformá-lo em uma das ferramentas mais úteis para seus usuários e para as empresas que souberem sair na frente dessa tecnologia. Vamos aos exemplos de como os usuários já podem aproveitar essa ferramenta:
  • Você está querendo sair para jantar em uma cidade que você não conhece. Acessa o Foursquare, e através do GPS do seu celular ele lista os lugares próximos de onde vc está. Você pode checar os comentários e dicas das pessoas que foram a esses lugares e escolher o que mais lhe agradar;
  • Em uma sexta a noite, você não sabe onde ir. Você olha o Foursquare, e descobre em que bar os seus amigos estão e vai se juntar a eles;
Para as empresas as oportunidades são ainda maiores. Vejam alguns exemplos do Brasil e de fora:
  • "Spoleto - Faria Lima (São Paulo, SP/Brasil)Aqui no Spoleto Faria Lima, o Mayor da loja ganha uma Massa Tradicional toda sexta-feira. Vá até o caixa, faça o check-in e mostre que você é o Mayor! Buon appetito!"
  • "Boteco Ferraz (São Paulo) Free Enox Expressions posters for you on every 3 check ins here @BotecoFerraz • for more information > > enox@enox.com.br"
  • "Don Carlini - Vila Madalena (Sao Paulo) Venha nos conhecer! Mostre o seu check-in à nossa equipe que uma taça de espumante será por nossa conta!"
  • "Bar Secreto (Sao Paulo, Brazil)Vip entrance for the mayor. Any time, any day."
  • "Royalpixel (São paulo) Ganha uma coxinha ou um pastel a cada 3 check-in"
  • "Zena Caffè (São Paulo, SP) The Mayor of Zena Caffè gets 10% off"
  • O Bureau de Turismo de Chicago usou o Foursquare para convidar turistas a seguir os passos de Ferry Bueler (do filme "Curtindo a Vida Adoidado"), concorrendo a prêmios de acordo com os locais visitados e algumas outras regras.
Além disso, as empresas que "reclamarem" seus lugares no Foursquare, terão direito a uma página onde poderão checar on line quantas pessoas fizeram check-in em seus estabelecimentos, quantas vezes voltaram, idade, fidelidade, etc.
Esses exemplos mostram um pouco do potencial dessa ferramenta que ainda é nova e tem muito a crescer. Eu acredito que o Foursquare vai se tornar um sucesso em um futuro próximo. E pelo sim, pelo não, estou colecionando algumas prefeituras na cidade....

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Superbowl 2010 - comerciais em jogo

Poucos eventos refletem tão bem a cultura de uma nação quanto o Superbowl americano. A final da NFL é o evento mais assistido nos Estados Unidos, e o minuto de comercial mais caro do ano. O jogo acontece em meio a shows (esse ano o The Who fez um pocket show), homenagens, celebridades, imagens de bases americanas no exterior, e tudo isso ensaiado e sincronizado a perfeição. Durante as quase 4 horas de jogo as empresas tem a chance de se comunicar de uma vez só com uma milhares de americanos de todas as classes, idades e tribos - nesse ano a audiência foi recorde: 106 milhões de americanos assistiram pela televisão o evento ao vivo.

Toda essa audiência concentrada torna os intervalos comerciais do Superbowl tão interessante quanto o próprio jogo, já que as empresas preparam seus melhores e mais caros anúncios para serem lançados durante o evento. Nesse ano foram exibidos 68 comerciais novos, sendo que muitas marcas veicularam mais de um - a Budweiser foi a campeã com 9 comerciais lançados. Diversos sites avaliaram os comerciais veiculados, escolhendo os melhores e os piores de 2010. O site mais famoso é o do USA TODAY que utiliza uma pesquisa on line durante o jogo que avalia a reação de 250 pessoas segundo a segundo enquanto elas estão assistindo aos anuncios – o chamado Ad meter. Entre os blogs que acompanharam o evento, um me chamou atenção por se utilizar do Twitter para fazer a mesma avaliação: ele contou a quantidades de Tweets de cada comercial que aconteciam durante o jogo para escolher os mais comentados (ou Tweetados). Além disso, dezenas de outros blogs fizeram as suas próprias listas de melhores e piores, utilizando critérios diversos (e nem sempre imparciais...)

Tentando extrair as principais unanimidades entre esses blogs e a minha opinião pessoal, preparei uma lista com os 5 “melhores” e coloquei ao lado o porque o comercial chamou a minha atenção:

Simpsons - Broke Billionaire (Coke) – utilizou os Simpsons para dar vida a campanha global da Coca de uma forma muito inteligente. Segue o principio de Advertisement adotado pela Coca nos ultimos anos;

Betty White (Snickers) – representou de forma exagerada e bem humorada o benefício do produto – dar energia. Usou uma cena de futebol americano e uma atriz famosa em cenas bizarras que prendem a atenção e geram curiosidade com o final do comercial;

Parisian Love (Google) – simplesmente genial. Utilizando a tela do Google search contou uma história de amor. Alem de mostrar de forma clara as ferramentas do Google. Na minha opinião o melhor de todos.

Dog's revenge (Doritos) – piada pura. Simples, óbvia, mas adequada para um jogo de futebol. O unico problema é que por se tratar de uma piada, tem validade curta. Não dá pra usar muitas vezes não...

Clydesdale Friend (Budweiser) – diferente dos outros 8 comerciais da Bud veiculados, esse foi o único que não teve humor como foco principal. Contou uma história de amizade entre animais, com um tom emocional. Apesar de meio clichê, valeu por ter sido diferente dos demais da Bud.

Para quem gosta de marketing e propaganda, realmente assistir ao Superbowl é um programa que vale a pena. E ainda por cima no meio desse evento e de todos esses comerciais ainda dá pra acompanhar um joguinho...

sábado, 30 de janeiro de 2010

Campus Party 2010

A primeira impressão quando se chega ao grande pavilhão onde esta sendo realizada a Campus Party 2010 é de grandiosidade. No centro do pavilhão ficam centenas de pessoas espalhadas em bancadas contínuas, com seus computadores ligados em rede. É facil distinguir os grupos de amigos, já que cada um deles procura uma forma de "personalizar" seu espaço: vale camisetas iguais, bichos de pelúcia em cima de tripés, faixas penduradas atrás das cadeiras, e até bonecos em tamanho natural de personagens do tipo RPG. Em volta dessa massa de pessoas teclando sem parar, encontram-se uma dúzia de palcos para palestras de determinados temas. Robótica, criatividade, software livre, design, musica, e é claro games, são alguns dos temas discutidos nos 7 dias de encontro. As palestras acontecem simultaneamente, e você precisa ficar bem atento a agenda do evento, se quiser participar de alguma coisa específica. Mas, a parte mais interessante sem dúvida, é o público. Na sua maioria homens e jovens, os frequentadores da Campus Party não se encaixam em apenas um estereótipo. Rockeiros, gamers, nerds, cientistas, donos de lan houses, e muitos como eu, curiosos. Dormindo em uma impressionante área de camping interno, eles andam pra lá e prá cá carregando garrafas de Coca-cola, lanches, e muito Red Bull. Os flash mobs acontecem periodicamente, animando (e acordando) a galera. E é claro, existe muito, MUITO, game rolando on line.

Toda essa mistura, e toda essa estrutura tem como objetivo estimular a inovação e a troca de conteúdo. Algumas das coisas que apareceram esse ano na Campus Party que eu achei mais legal:
- "Crie sua propria rede social (da Coolivre)" - qualquer pessoa vai poder criar o seu próprio Facebook ou Orkut usando esse projeto;
- "On Air" - projeto que busca em discursos palavras especificas (imagino uma especie de Google que busca palavras em videos da internet)
- Muitos programas de realidade virtual, o que demonstra que essa deve ser uma das próximas fronteiras digitais. Alguns exemplos que vi no Campus: Head Bang Hero (uma especie de Guitar Hero onde vc mexe a cabeça pra jogar), jogos de futebol com bolas virtuais, jogos de "derrubar bonecos virtuais" com bolas de verdade.
- Outra coisa legal que vale um destaque: além de poder encontrar todo o conteúdo em um canal do Youtube, todo o evento é transmitido ao vivo na página da Campus Party - vc pode escolher qual palestra acompanhar ao vivo. Essa proposta poderia ser adotada por outros eventos importantes, aumentando em muito o acesso ao conteúdo gerado.

No final de tudo isso, a pergunta é vale a pena ir a Campus Party? Se vc quer jogar on line vale. Se vc quer participar de debates sobre temas específicos, vale. Se vc quer participar de Flash Mobs, dormir em barracas, entrar em concursos de fotografias digitais, trabalhar em projetos com o seu grupo de amigos, também vale. E se vc for apenas um curioso? Sem dúvida. Participar desse grande movimento é uma prova viva que o nosso mundo está cada vez mais conectado e criativo. Ano que vem eu volto.

sábado, 11 de julho de 2009

Propaganda subliminar - acho que vi alguma coisa....

Na semana passada estava assistindo aos filmes de lançamento das novas "Ruffles do seu jeito - meninos e meninas" e uma coisa me chamou a atenção: lendo os comentários de um dos blogs que falavam da novidade, muitos usuários diziam que existia uma mensagem subliminar nos filmes. Segundo os relatos, se você parasse o filme por volta dos 28 segundos você veria a imagem de um homem aparecendo no comercial voltado para as meninas, e a imagem de uma mulher sensual no comercial voltado para os meninos. Fiquei curioso, fiz o teste e realmente as imagens estavam lá... (faça o teste!) Mas, seria isso realmente uma propaganda subliminar?

O primeiro registro de uma propaganda subliminar foi o famoso teste realizado em um cinema dos Estados Unidos na década de 50, quando durante a exibição de um filme qualquer, aparecia a frase "BEBA COCA COLA" projetada na tela em uma fração de segundos, imperceptível para o nosso consciente. O resultado desse teste foi um aumento de mais de 50% nas vendas de Coca-cola após a sessão de cinema, e repetindo o experimento com pipoca, os resultados foram semelhantes. Depois desse teste, muitos artigos foram escritos sobre esse assunto, discutindo a sua real eficiência, e principalmente questionando se seria ético por parte das empresas utilizarem mensagens subliminares para vender seus produtos. Antes de entrar na discussão de "propaganda" subliminar, precisamos entender muito bem o que seria uma "mensagem" subliminar.
Segundo a psicologia, mensagem subliminar é qualquer estimulo abaixo do limiar da consciência, que produza algum efeito na atividade psíquica. De uma maneira mais simples, subliminar é tudo o que absorvemos "sem perceber" quando estamos prestando atenção em alguma coisa específica. Quando estamos conversando com alguém e está tocando uma música ao fundo, por exemplo, podemos não perceber naquele momento, mas essa música pode nos soar familiar em alguma outra ocasião. Ou ainda, ao assistir a uma cena de um filme, podemos estar prestando atenção nas falas dos atores, mas tudo o que estiver acontecendo no fundo da cena será captado pelo nosso subconsciente de alguma forma, e contribuirá para a nossa "percepção" final sobre o filme, ou sobre o enredo.


Considerando essa definição psicológica, o conceito de propaganda subliminar se torna muito mais amplo do que a idéia de usarmos "frases ocultas" em filmes publicitários. Se subliminar é tudo o que absorvemos sem perceber, todo o contexto onde a propaganda está inserida poderia ser considerado como subliminar: a trilha sonora, as roupas dos atores, o cenário escolhido, e tudo mais que não estiver fazendo parte da cena principal. Saindo dos filmes publicitários, e olhando por esse prisma, podemos considerar subliminar a escolha das cores na decoração de uma loja (a famosa combinação de vermelho e amarelo do Mc Donald’s que procura fazer com que as pessoas comam mais rápido), o tipo de fonte escolhida em uma campanha impressa (uma fonte estilo letra de mão pode ajudar a reforçar a imagem de um produto feito artesanalmente, enquanto uma fonte mais digital pode representar um produto de alta tecnologia), um produto que apareça de relance em um filme de cinema (como na gôndola de um supermercado, ou em um outdoor presente de forma discreta em uma das cenas), e qualquer outro elemento que de uma forma ou de outra foi utilizado de forma indireta para reforçar uma mensagem principal.

Sob essa ótica, a propaganda subliminar fica muito menos romântica e polêmica. Saem as “frases escondidas para nos enganar”, e entram os elementos e detalhes que diferenciam uma boa campanha de uma campanha medíocre. Uma campanha onde todos os elementos – principais e “subliminares” - estão alinhados em torno de uma única mensagem (os atores, a trilha sonora, o cenário, a linguagem, etc) tem uma maior chance de impactar os seus consumidores de forma relevante. E partindo desse princípio, a questão ética deixa de estar relacionada a utilização de mensagens subliminares, ficando restrita ao conteúdo e ao objetivo da mensagem em si.

Depois de toda essa teoria, podemos voltar a nossa pergunta inicial: será que a cena inserida nos comerciais da Elma Chips pode ser considerada mensagem subliminar? Seguindo a lógica apresentada nesse post, poderíamos dizer que sim. Mas, na minha honesta opinião, acho que a intenção real de quem elaborou esse filme foi de apenas deixar um elemento “semi escondido” que poderia gerar comentários e um certo “buzz”na internet. E pelo visto funcionou...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Entendimento e segmentação de consumidores - o caso da Eurodisney

Um dos casos mais estudados e debatidos em faculdades de administração é o caso da Eurodisney. Infelizmente para os adoradores do Mickey & Cia, o motivo de tamanho interesse nesse caso é o grande fracasso do seu modelo de negócio. Erguido nos arredores de Paris depois de uma disputa acirrada com outros paises europeus, depois de milhões de euros investidos em transporte, infraestrutura, divulgação, etc, o megaemprendimento só trouxe dores de cabeça aos seus idealizadores. Inaugurado em 1992, o complexo de entretenimento nunca conseguiu sair do vermelho, e sempre esteve bem abaixo de suas metas de desempenho originais. Porém o que poucos sabem é que no ano passado a Eurodisney foi a atração turística mais visitada de toda a Europa com mais de 15 milhões de visitantes. Esse número é maior que a soma dos visitantes do Museu do Louvre e da Torre Eiffel. Surpreso? O mais interessante é que por detrás desses momentos antagônicos da Eurodisney podemos tirar importantes lições sobre o entendimento e a segmentação de consumidores.
Vamos aos fatos. Quando foi idealizado no final dos anos 80, a Eurodisney deveria seguir a mesma formula de sucesso dos parques da Disney nos EUA: atrações espetaculares, hotéis temáticos, e consumo, muito consumo. Os frequentadores da Disney americana deixam milhares de dólares em hospedagem, lanches, bonecos de pelúcia e tranqueiras com orelhinhas do Michey. Logo nos primeiros meses de funcionamento os gestores da Eurodisney perceberam - da pior forma possível - que esse não era o perfil do visitante europeu. Esse último preferia se hospedar em Paris ao invés de ficar em caríssimos hotéis temáticos dentro do parque, muitas vezes levava lanches de casa ao invés de comer nos restaurantes do complexos, e principalmente não tinha a fúria consumista dos americanos para bichos de pelúcia e souvenirs em geral. Outras falhas graves também podem ser citadas: a não disponibilidade de vinhos e cervejas nos restaurantes do parque (fundamentais para franceses e italianos nas refeições), a proibição do uso de bigodes e barbas pelos funcionários, a profunda queda de visitantes nos meses do inverno... Todos esses fatos quase levaram ao fechamento da Eurodisney, e demonstraram a total ignorância sobre o comportamento do consumidor europeu.
Em 2005 os executivos da Eurodisney resolveram finalmente entender os consumidores europeus para buscar formas de aumentar a atratividade do parque, que estava com as visitas estagnadas em torno de 11 milhões de pessoas por ano até 2004. Fizeram então um estudo profundo do mercado europeu que acabou dando origem a diversos segmentos com características diferentes entre sí. Dentro desses segmentos, um acabou chamando atenção dos executivos da Eurodisney: eram famílias que já haviam visitado o parque, tinham adorado a experiência, mas não planejavam voltar. Esse segmento foi chamado de "Disney Family". Devido ao seu elevado potencial de consumo e facilidade de atração (já que eles conheciam o parque e haviam gostado), esse segmento tornou-se o principal foco das atividades de marketing da Eurodisney . Para trazer esses consumidores de volta anualmente, decidiu-se criar um tema especial todos os anos, que em conjunto com algumas atrações novas, tornariam a experiência de visita algo inédito e exclusivo. Uma visita em uma ano nunca seria igual ao do ano anterior (em 2009 o tema é "A Festa Mágica do Mickey", por exemplo). Essa estratégia trouxe resultados muito positivos, com o número de visitantes aumentando ano após ano, até atingir o numero recorde de 2008.
A história da Eurodisney ilustra claramente as armadilhas que corremos quando não conhecemos profundamente os nossos consumidores, e mostra também os benefícios que conseguimos quando conseguimos entendê-los bem. Outro aspecto que fica muito claro é a dificuldade em obter esse conhecimento. Afinal de contas, apesar do aumento expressivo do número de visitantes, a Eurodisney continua deficitária. Seus executivos conseguiram entender bem como atrair mais pessoas para o parque. Mas ainda não conseguiram entender como fazer essas pessoas gastarem o seu dinheiro por lá.

sábado, 16 de maio de 2009

Expandindo a categoria - a nova campanha da Hellmann´s

Que Hellmann´s é a verdadeira maionese todo mundo já sabe. Aquele pote de rótulo azul e aquela tampa laranja são inconfundíveis, e ajudam a deixar mais gostosos pratos, sanduiches, canapés... Depois de anos de investimento constante, Hellmann´s conseguiu chegar a uma posição invejável: líder de mercado com folga (mais de 50%), e com força de marca suficiente para cobrar o preço mais alto da categoria. Mas, uma marca que atinge uma participação tão folgada no seu segmento tem em geral uma grande dificuldade de ampliar sua participação de mercado, já que o grupo dos demais concorrentes é formado por marcas baratas, marcas regionais e marcas próprias de supermercados, que ocupam nichos difíceis de serem atingidos pela marca líder. Nesses casos, muitas vezes expandir o tamanho da categoria é a única forma de continuar crescendo e gerando valor aos seus acionistas.
Mas como ampliar uma categoria que está presente em mais de 80% dos lares do Brasil? O primeiro passo para esse desafio é entender quais são as barreiras que impedem que o consumo da categoria seja ainda maior. Apesar de gostarem muito do seu sabor, muitos consumidores evitam o consumo de maionese, ou ainda substituem-na por cream cheese ou algo parecido, por um motivo bem claro: acreditam que a maionese engorda muito. Essa é claramente uma barreira psicológica que impede o crescimento da categoria maionese, e consequentemente da sua marca líder - Hellmann´s.
Uma vez identificado a barreira de crescimento da categoria, a empresa precisa buscar uma forma de quebrá-la. No caso da maionese Hellmann´s, a Unilever teve a idéia de comparar as calorias de uma colher de maionese com outros alimentos considerados "light" como gelatina, queijo branco e barras de cereal. Mas essa informação era realmente interessante para os consumidores? Pesquisas realizadas pela empresa mostraram que 97% dos entrevistados consideraram a informação de que maionese tem poucas calorias muito relevante. Agora sim, tudo pronto para lançar a campanha. Para fechar a estratégia com chave de ouro, além de divulgar a mensagem de forma tradicional na TV, a marca também criou peças especiais para serem divulgadas em veículos ligados ao cuidado do corpo, como a revista Boa Forma, por exemplo.

Se a estratégia adotada pela Hellmann´s vai trazer o resultado esperado ainda não é possível afirmar. Mas sem dúvida é um excelente exemplo de como quebrar uma barreira de consumo de uma categoria e ampliar o mercado. Como diria a minha avó, às vezes a melhor forma de aumentar a sua fatia no bolo é fazendo um bolo maior...